A palavra do momento é interconectividade

Episódio #15 – Podcast 2030

Por Renata Brunetti

Eu sempre digo que, em algum momento, alguns de nós “despertamos”. Parece estranho falar desse jeito, mas é uma forma carinhosa de dizer que em algum momento da vida somos tocados por um entendimento que a vida é maior que consumo e status e que estamos todos interconectados – seres humanos, animais e natureza. Ou seja, entendemos que a roupa que compramos aqui pode impactar uma criança na China. E, a partir desse momento tão especial, a gente passa a se preocupar com o ambiente ao nosso redor, com as florestas, com o impacto ambiental e social do nosso estilo de vida e com as pessoas ao nosso redor.  

Eu acho esse processo super bonito e fiquei muito contente em  escutar a história do Ricardo Gravina. Apesar de acompanhar o trabalho dele há alguns anos, gostei muito de escutar em detalhes o seu percurso dentro do universo dos negócios de impacto social e ambiental. E ele foi muito generoso em compartilhar sua história e seu conhecimento no 2030, o podcast do Change for Good.

“Eu era um menino normal, paulistano, e tinha aquela mentalidade de trabalhar, ter meu próprio negócio, já que há muitos empreendedores na minha família, ganhar bastante dinheiro, casar e ter minha família”, conta.“Para melhorar meu inglês e expandir minha visão de mundo, eu fiz um intercâmbio. Quando voltei da viagem, com uns 20 anos, peguei o carro, parei no farol e vi um mendigo pedindo dinheiro na rua. Aquilo mexeu muito comigo.

Aqui no Brasil, nós estamos muito expostos à pobreza e à disparidade social e, para conviver com essa realidade, criamos uma casca para se proteger. Acho que eu estava mais sensível após a viagem e fiquei com vergonha de mim por não ter percebido isso antes e não ter feito algo antes. Fiquei muito tocado e entendi que precisava fazer algo a respeito.”

Depois desse dia, ele ficou alguns anos estudando e tentando encontrar uma forma de alinhar seu propósito de vida com o profissional. Em 2009, com 28 anos, tomou a decisão final: abriu uma empresa de turismo sustentável, a Aoka, que começou organizando viagens para conhecer comunidades tradicionais no Brasil. Naquele momento, a ideia era gerar vários impactos: gerar renda, inclusão e valorização das culturas e sensibilizar o olhar das pessoas para a importância da interconectividade do mundo. 

Desde então, Ricardo tem se aventurado em vários projetos, sempre com o propósito de trabalhar por um mundo melhor. Atualmente, a Aoka Labs que, como nós, é uma empresa B e uma plataforma de inovação social para a mobilização de atores, colaboração e ação coletiva.

Ricardo também fundou, em 2018, a Climate Ventures, uma plataforma de inovação multisetorial para acelerar uma economia regenerativa e de baixo carbono, fomentando um ecossistema de pessoas e organizações que apoiam o empreendedorismo climático no Brasil. 

São tantas frentes que Ricardo participa, ao mesmo tempo, que o trabalho deles impulsiona o ODS 17, que trata de fortalecer os meios de implementação e revitalizar a parceria global para o desenvolvimento sustentável e vários outros ODSs estabelecidos pela ONU. E a ideia é essa mesma, pois os problemas e as soluções estão conectadas, como todos nós! 

Sobre Ricardo Gravina

Ricardo Gravina – Especializado em desenvolvimento de negócios, marketing e inovação social. Investiu por mais de dez anos em novos negócios em mercados tradicionais, antes de co-fundar a Aoka Tours (a primeira operadora de turismo sustentável no Brasil), em 2009, a consultoria de inovação social Aoka Labs, em 2014, e o Instituto Climate Ventures – plataforma para apoiar startups que atuem em prol do clima, em 2018. É membro efetivo do conselho no Sistema B Brasil (B Corps Movement), líder responsável pela Fundação BMW e investidor em startups de impacto focadas em Educação e Fintech.

Dicas 

Livros

Small is Beautiful: Economics as If People Mattered, de E. F. Schumacher (ainda inédito no Brasil)

1984, de George Orwell (Companhia das Letras)

Arte

Artista inglês Banksy. “Acho ele um gênio. Ele tem sacadas e questionamentos sensacionais sobre as nossas questões sociais.”

Música

Trilha sonora do filme “Na natureza selvagem”, do Eddie Vedder. Em especial: “Society”.

Organizações citadas

Climate Adventure

Unimos as esferas de clima, negócios e inovação para alavancar a economia de baixo carbono.

https://www.climateventures.co/

Aoka Labs

Somos um negócio social que desenvolve líderes e cria plataformas de inovação para resolver desafios complexos. Fazemos isso utilizando tecnologias sociais para mobilizar atores, ativar ecossistemas e agir coletivamente.

http://aoka.com.br/

Sistema B

Uma comunidade global de líderes que usam os seus negócios para a construção de um sistema econômico mais inclusivo,

equitativo e regenerativo para as pessoas e para o planeta.

https://www.sistemabbrasil.org/

Fundação BMW

A Fundação BMW Herbert Quandt promove liderança responsável e inspira líderes de todo o mundo a trabalharem em prol de um futuro de paz, justo e sustentável. 

https://bmw-foundation.org/en/

Dados

• Os problemas e as soluções estão conectadas, como todos nós
• Precisamos, também, estar atentos aos impactos que o nosso estilo de vida causa nos outros e no mundo, pois vivemos em teia – não só virtual, mas física também

Como podemos, enquanto pessoa e sociedade, ajudar na sua causa? 

“Como influenciar o olhar das pessoas? Eu acho que esse talvez seja o maior desafio para perceber a interdependência das coisas. A gente hoje tem também todo um incentivo pra ser cada vez mais autocentrado, por conta da nossa sociedade e do consumismo. Vivemos cada vez menos em sociedade e mais autocentrado em pequenas bolhas. E isso atrapalha muito a percepção dos impactos se eu não saio da minha bolha. O primeiro desafio é desenvolver a curiosidade sobre os meus impactos. Por exemplo, quando eu decido comprar algo orgânico ou não orgânico. O que eu estou alimentando quando eu me alimento? Alimentando a pessoa da agricultura regenerativa e pequena agricultura, que vai alimentar sua família e criar um mundo melhor? Ou vou consumir um produto com agrotóxico de uma grande organização (sem crítica a grandes organizações, pois há boas e ruins), fomentando uma indústria química que polui o solo? Há um universo de exploração.”