É preciso ir além dos muros da saúde e cuidar da pobreza

Episódio #04 – Podcast 2030
Por Renata Brunetti

São 30 anos trabalhando incansavelmente por um mundo melhor, uma busca intensa por um mundo com menos desigualdade e mais acolhimento para as pessoas mais vulneráveis do Brasil. Nesses 30 anos – muitos deles que eu acompanho de perto – o Instituto Dara (antigo Saúde Criança Renascer) atendeu 75 mil pessoas diretamente. Porém, mais do que isso, criou uma metodologia que foi constituída como política pública em muitas cidades brasileiras e exportada para quatro continentes.

Todas as vezes que eu converso com a querida e guerreira Vera Cordeiro, fundadora do Dara em 1991, eu fico impressionada! Ela é uma dessas mulheres que eu admiro muito, não só pela sua dedicação para a sua causa mas, também, pela profundidade com que ela conhece o tema e com o qual expõe sua visão sobre nossa situação. Inclusive, Vera foi até mesmo case de estudo da minha tese de doutorado na psicologia social, quando estudei o perfil dos empreendedores da Ashoka. 

Nós batemos mais um papo muito gostoso para o 2030, podcast do Change for Good sobre os mesmos temas e inquietações. “Segundo a OMS, um terço das pessoas que morrem diariamente, morrem por doenças relacionadas à pobreza. Se não cuidarmos, elas vão continuar morrendo. Estamos falando de um terço da população mundial”, afirma.

Vera, antes de criar o Dara, trabalhou como médica em hospitais públicos do Rio de Janeiro por muitos anos. E percebeu que sua atuação, como médica, tinha limitações sérias. “Eu percebi que, em algum momento da história, a medicina tradicional e os direitos humanos se separaram. Um médico tradicional num hospital público não dá conta. As verdadeiras causas das doenças estão nas condições de vida dos pacientes. O ato médico tradicional não é eficiente. Eu entendi que precisava ir para além dos muros tradicionais para criar uma nova organização. Não para substituir o Estado, mas para que o ato médico se completasse. Era preciso cuidar da pobreza”, explica.

O Dara é uma organização da sociedade civil que atua para promover a saúde e o desenvolvimento humano por meio da implementação e da disseminação de uma abordagem integrada de combate à pobreza. Ou seja, durante dois anos, a família terá acesso a profissionais de diversas áreas: médico, nutricionista, arquiteto, reforma de telhado, entre outros. E, inclusive, conseguir um investimento semente para começar seu próprio negócio. A ideia é que, em dois anos, a família seja autossustentável e não dependa mais dos recursos nem do apoio da instituição. “O quão sustentável é o remédio chamado Dara? Em três anos, as internações hospitalares das pessoas atendidas por nós caem em 85%, a renda dobra. Antes do Dara, só 28% tinham casa própria. Entre três e cinco anos pós ‘alta’ do Dara, 50% tem casa própria”, conta. “É uma transformação sustentável.”

Com muita energia e brilho nos olhos, Vera é uma mulher admirável e cheia de planos. O instituto está criando uma plataforma com várias novidades e pensando seus próximos dez anos. Mas, segundo ela, um dos movimentos mais importantes para o momento atual é cada um fazer sua parte como indivíduo e como coletivo. “Como a gente muda? Através de projetos como o Dara e outros. Precisamos promover um levante na sociedade civil. E o governo que venha atrás”, diz. Quem vem junto?

Sobre Vera Cordeiro

Vera Cordeiro, médica clínica-geral de um hospital público no Rio de Janeiro, cansou-se de curar crianças para devolvê-las às mesmas condições de miséria que causavam suas doenças. Fundou o Instituto Dara (antigo Saúde Criança Renascer), que identifica crianças em famílias de risco e dá suporte, por meio de voluntários treinados, para melhorar a renda, a educação, a saúde e a cidadania. Seu modelo de atuação tem sido copiado mundo afora.

Dicas

Poesia de Cora Coralina, Adélia Prado, Mario Quintana

Um livro: Minha história, de Michelle Obama (Objetiva)

Uma música: Quem te viu, quem te vê, de Chico Buarque

Organizações citadas

Instituto Dara

O Instituto Dara (antigo Saúde Criança Renascer) é uma organização da sociedade civil que atua para promover a saúde e o desenvolvimento humano por meio da implementação e da disseminação de uma abordagem integrada de combate à pobreza.

https://dara.org.br/conheca/quem-somos/sobre-nos/

Ashoka

Ashoka Empreendedores Sociais é uma organização internacional sem fins lucrativos, com foco em empreendedorismo social, fundada na Índia por Bill Drayton em 1980. A Ashoka atua desde 1987 no Brasil. Investe em empreendedores sociais, conhecidos como “fellows”

https://www.ashoka.org/en

Muhammad Yunus

Muhammad Yunus, é um economista e banqueiro bengali. Em 2006 foi laureado com o Nobel da Paz. 

https://www.yunusnegociossociais.com/

Universidade Federal do Rio de Janeiro

https://ufrj.br/

Robert Wood Johnson Foundation:
https://www.rwjf.org/

A Fundação Robert Wood Johnson é a maior instituição filantrópica dos Estados Unidos voltada exclusivamente para a saúde.

Tânia Limeira

https://pesquisa-eaesp.fgv.br/professor/tania-maria-vidigal-limeira

Georgetown University

www.georgetown.edu

Georgetown University fez uma pesquisa que comprovou o impacto de longo prazo do trabalho da Dara. Entre 3 a 5 anos após a alta da família do programa do Dara, as reinternações hospitalares caem em 86% e a renda praticamente dobra. Para mais informacoes sobre esta pesquisa consulte o site www.dara.org.br

Médicos sem fronteiras

Médicos sem Fronteiras é uma organização internacional, não governamental e sem fins lucrativos que oferece ajuda médica e humanitária a populações em situações de emergência, em casos como conflitos armados, catástrofes, epidemias, fome e exclusão social.

https://www.msf.org.br/doador-sem-fronteiras?utm_source=adwords_msf&utm_medium=&utm_campaign=institucional_captacao&utm_content=_institucional_general_39923&gclid=EAIaIQobChMI9qzw_K-D7wIVAgSRCh3yMQzzEAAYASAAEgINt_D_BwE

Dados da Vera

• Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), um terço das que morrem diariamente no mundo morrem por doenças relacionadas à pobreza. 
• Crianças em situação de vulnerabilidade estão dentro de um ciclo vicioso de miséria, doença e, em muitos casos, morte. É preciso tratar a pobreza, não só a doença, de forma isolada.

Como podemos, enquanto pessoa e sociedade, ajudar na sua causa? 

Segundo Vera, há várias formas de apoiar. É possível apoiar com pesquisa e conhecimento, juntando-se à área acadêmica. Se tem recursos financeiros, pode patrocinar uma área também, pois são várias as frentes dentro do Dara. Por exemplo: pode doar capital semente para as mães que precisam começar seu negócio porque ficaram desempregadas na pandemia; pode ajudar a consertar o telhado da casa de uma criança que tem pneumonia por conta da sua condição de moradia; etc. 

*O Change for Good agradece Willy Verdaguer pela autorização para usarmos como abertura o delicioso arranjo que fez com o grupo Humahuaca para a consagrada Alegria Alegria de Caetano Veloso e aproveita para agradecer e se desculpar por ter tomado emprestado, sem sequer pedir licença, a música Quem te viu, quem te vê, de Chico Buarque, para fechar este episódio. 

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