Mudanças sistêmicas e estruturais
Mudanças sistêmicas e estruturais
Mudanças sistêmicas e estruturais
Episódio #13 – Podcast 2030
Por Renata Brunetti
Eu conheci o Ricardo Glass alguns anos atrás em um lugar muito bacana e importante pra mim e para ele também: a Ashoka, uma organização internacional sem fins lucrativos, com foco no empreendedorismo social. Na época, além de fazermos parte da rede global de apoiadores da Ashoka – ASN, eu estava pesquisando e estudando os empreendedores ligados à instituição para o meu doutorado em psicologia social e nos encontramos lá. “Esse encontro já conta um pouquinho do nosso DNA, da nossa reflexão de quanto que a gente é responsável pelo mundo que a gente cria”, lembra ele, com muito entusiasmo, na nossa conversa para o 2030, podcast do Change for Good.
Naquele momento, Ricardo vivia um movimento de busca dentro de si e dentro da sua carreira profissional. “Eu separo minha vida em duas fases. Meu despertar aconteceu relativamente cedo, quando, aos 27 anos, eu perdi meu primo e meu melhor amigo. Eu realizei, lá atrás, que a busca por status e dinheiro não tinha mais sentido para mim. Nunca fui um cara muito deslumbrado com essas coisas. Mas tem uma receita de bolo do que é considerado sucesso e aquilo deixou de fazer sentido pra mim”, conta ele. Desde então, ele tem se dedicado a refletir e a atuar dentro das questões da sustentabilidade e dos negócios de impacto social em prol desse movimento tão importante de criarmos um mundo mais respeitoso com todos – sejam os seres humanos, os animais e a natureza.
“Eu entendi que meu papel era sistêmico. Eu deveria estar a serviço de uma transformação do mundo dos negócios, de como fazemos negócios na sociedade. Essa troca fria de tempo por dinheiro já não fechava a conta para a maioria das pessoas. A gente estava se aproveitando de recursos do planeta e tratando as pessoas como recursos também, sugando a alma das pessoas”, diz.
Pensando nisso tudo, Ricardo foi uma das pessoas que ajudou a trazer o movimento do Capitalismo Consciente para o Brasil, participou ativamente do Sistema B e fundou, em 2010, a Okena, uma empresa do sistema B que coleta, trata e destina corretamente efluentes, de alta ou baixa complexidade, ácidos, alcalinos, emulsões, ou outros resíduos perigosos, usando processos físico-químicos e biológicos. Ele, assim como eu, é um grande otimista, principalmente porque percebemos que o “despertar” de uma nova consciência – onde somos todos um e estamos interconectados – é cada vez mais forte. Ele acha que todos nós precisamos entender que mudar o mundo tem, também, uma dose de sacrifício e que precisamos sair da nossa zona de conforto.
“Não estou julgando, mas gostaria que as pessoas fizessem essa reflexão. Olhe para seus próprios desafios, suas incoerências, seja seu próprio juiz”, explica. “Mas nunca com o olhar de culpa. Sempre no lugar do desejo e do amor.”
Sobre Ricardo Glass
Ricardo Glass – Empreendedor, economista e inquieto. Praticante de yoga e incomodado com o estado das coisas. Acredita que todos somos um, respirando inter-independência (das pessoas e dos ambientes / contextos). Eterno buscador da vida que vale a pena. Fundador da Okena. Empresa B certificada de tratamento de efluentes perigosos e que busca mostrar que é possível fazer negócios de um jeito mais responsável, amoroso e, porque não, espiritualizado. Glass também é um dos fundadores e conselheiro dos Instituto Capitalismo Consciente Brasil, Arredondar e Samuel Klein. Acaba de deixar a cadeira de co-presidente do Sistema B no Brasil e assumir a posição de curador do movimento. A sua empresa foi uma das primeiras empresas no Brasil a se tornar signatária do Pacto Global da ONU em 2010 e portanto usa tudo o que tem de recursos na vida para ajudar a endereçar os principais desafios da humanidade.
Dicas
Filme: Na natureza selvagem
Música: Society, de Eddie Vedder (trilha sonora do filme “Na natureza selvagem”)
Museu: Yad Vashem (é o memorial oficial de Israel para lembrar as vítimas judaicas do Holocausto)
https://www.yadvashem.org
Organizações citadas
Ashoka
Ashoka Empreendedores Sociais é uma organização internacional sem fins lucrativos, com foco em empreendedorismo social,
Arredondar
O Movimento Arredondar é uma ONG que apoia outras ONGs coletando microdoações e inspirando solidariedade. Somos uma organização sem fins lucrativos, fundada em 2011 com a proposta de tornar o ato de doar fácil e acessível.
https://www.arredondar.org.br/
Sistema B
https://www.sistemabbrasil.org/
Uma comunidade global de líderes que usam os seus negócios para a construção de um sistema econômico mais inclusivo,
equitativo e regenerativo para as pessoas e para o planeta.
Instituto Capitalismo Consciente Brasil
O Capitalismo Consciente é um movimento global que se originou nos Estados Unidos a partir de um estudo acadêmico conduzido por Raj Sisodia, Jaf Shereth e David Wolf. O estudo tinha o objetivo de verificar como algumas empresas conseguiam manter alta reputação e fidelidade dos clientes sem ter investimentos exorbitantes em publicidade e marketing.
https://www.ccbrasil.cc/
Samuel Klein
O Instituto Samuel Klein é uma organização familiar dedicada à promoção do investimento social privado em homenagem à história e ao legado de Samuel Klein.
https://institutosamuelklein.org.br/
Okena
Soluções personalizadas para o tratamento dos seus efluentes industriais,
a Okena simplifica o processo e te dá todo suporte até o agendamento
do caminhão para coleta do efluente.
Como podemos, enquanto pessoa e sociedade, ajudar na sua causa?
“No caso das águas, a resposta é simples: precisamos de incentivo, começando agora com o marco regulatório que dá esperança para muita gente de evoluir. Fiscalização e punição também é fundamental. Precisamos de vontade política mesmo. Se tiver leis e fiscalização, isso evolui.”
“A gente gosta muito de se colocar numa posição de vítima na vida, tanto as organizações quanto os indivíduos. Temos que sacudir a poeira e chamar para si a responsabilidade de sermos protagonistas das nossas próprias escolhas. E eu digo que a principal escolha é a questão do consumo. O consumo transforma o mundo. Cada real que você gasta você está escolhendo um modelo de mundo, cada empresa que você investe, cada roupa que compra… você está incentivando um modelo de mundo.”
Dados do Ricardo Glass
- A cada real investido em saneamento básico, são economizados quatro reais em saúde pública. Água suja e contaminada gera problemas, mata e custa caro para o sistema de saúde. Saneamento básico é o melhor investimento que o governo pode fazer.
- O maior aquífero do mundo fica no Brasil.
- Uma pesquisa feita pela Fundação Getúlio Vargas, em 2014, revela que, na região metropolitana de São Paulo, lança-se um caminhão-tanque de efluentes industriais perigosos de forma ilegal a cada quatro segundos.
*O Change for Good agradece Willy Verdaguer pela autorização para usarmos como abertura o delicioso arranjo que fez com o grupo Humahuaca para a consagrada Alegria Alegria de Caetano Veloso e aproveita para agradecer e se desculpar por ter tomado emprestado, sem sequer pedir licença, a música Society, do Eddie Vedder, para fechar este episódio.
Sobre
2030 é o mais novo projeto do Change For Good, onde recebemos convidados mais que especiais que nos mostram que não só é possível mudar o mundo, mas que isso já está acontecendo. Tudo que discutimos aqui se baseia dos 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da ONU para 2030. Bem-vindos, e vamos juntos mudar o mundo!
Apoio aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU
Essa iniciativa contribui para o alcance de:
- ODS 14 - Vida na água: que visa Conservação e uso sustentável dos oceanos, dos mares e dos recursos marinhos para o desenvolvimento sustentável
- ODS 15 - Vida terrestre: que visa Proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres, gerir de forma sustentável as florestas, combater a desertificação, deter e reverter a degradação da terra e deter a perda de biodiversidade