Inclusão, acolhimento e diversidade

Inclusão, acolhimento e diversidade

Episódio #03 – Podcast 2030

Por Renata Brunetti

Rodrigo Mendes é um amigo muito querido. São anos de conversas e trocas muito importantes sobre nossos assuntos preferidos: educação, sustentabilidade, questões sociais. Ou seja, o nosso sonho de trabalhar e construir um mundo melhor para todos está sempre presente no nosso bate-papo. Não poderia deixar de ser diferente neste podcast, onde eu o convidei para falar sobre o Instituto Rodrigo Mendes, uma organização sem fins lucrativos com a missão de colaborar para que toda pessoa com deficiência tenha uma educação de qualidade na escola comum; educação inclusiva; e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) criados pela ONU em 2015. Tudo isso para o 2030, o podcast do Change for Good.

Rodrigo se preparava para ser médico quando, aos 18 anos, precisou mudar radicalmente seus planos em função das limitações motoras que adquiriu após um assalto.Por meio da ajuda e do apoio da família e de amigos, acesso a terapias de qualidade e da arte em sua vida, ele passou por esse momento tão difícil e se deparou com algo até então desconhecido para si.

“Quando eu saí desse processo, eu fui me dar conta que eu era uma exceção. Pessoas com deficiência passam por muita dificuldade, muita pobreza e muita angústia”, afirma.

Foi então que ele decidiu criar o instituto que leva seu nome, em 1994, por vários motivos, especialmente dois deles: “Primeiro lugar, por conta da necessidade que nasceu em mim de retribuir e agradecer tanta coisa boa que eu recebi. Ao longo da vida e principalmente naquele período. Perceber quanta gente se mobilizou para me ajudar. E também por conta de um certo desconforto, quase uma indignação, quando eu percebi que eu era um privilegiado, porque as pessoas não tinham nada.”

Desde então, o instituto recebeu inúmeros prêmios e Rodrigo se tornou empreendedor social da Ashoka, membro da Young Global Leaders do Fórum Econômico Mundial, além de consultor para a Unesco e para o governo de Angola. Segundo ele (e eu concordo total)uma educação inclusiva, que acomoda a diversidade e acolhe as deficiências, só tem a ganhar. “Então tem dois benefícios muito importantes. Traz para dentro alguém que estava excluído, que é o benefício direto. Segundo, tem um impacto muito grande que é contribuir para a qualidade da educação. Modelo que condiz com o mundo contemporâneo para enfrentar tudo o que temos pela frente”, diz. “Há estudos e pesquisas ao redor do mundo que comprovam que a escola como um todo ganha, tem maiores avanços e assim como melhor desempenho não só de competências sócio-emocionais, mas também de competências cognitivas.”

Eu gostei bastante da explicação que ele me deu para explicar o que são as ODSs. Para ele: “São uma espécie de código global sobre grandes ambições que foram acordadas para que o planeta melhore e que são extremamente relevantes porque tangibilizam as metas. Os objetivos são uma ferramenta de planejamento, acompanhamento, avaliação para essas mudanças almejadas. Acho que são uma ferramenta de transformação sócio-ambiental importantíssimas em tudo o que o planeta vem enfrentando e a necessidade de mudança para que a gente tenha a sustentabilidade”, diz.

E eu não poderia estar mais de acordo!

Sobre Rodrigo Mendes

Rodrigo Mendes é empreendedor social Ashoka e membro do Young Global Leaders (Fórum Econômico Mundial). Desde 2015, trabalha como consultor para a UNESCO e para o Governo de Angola. Em 1994 fundou o Instituto Rodrigo Mendes que tem como missão garantir que toda pessoa com deficiência tenha acesso a uma educação de qualidade na escola comum. 

Dicas do Rodrigo

Livros

• A incrível viagem de Shackleton: A mais extraordinária aventura de todos os tempos, por Alfred Lansing 
• Flow: A psicologia do alto desempenho e da felicidade, de Mihaly Csikszentmihalyi (Objetiva)

Uma música

• A paz, de Gilberto Gil e João Donato

Documentário

• Dilema das redes sociais  – The Social Dilemma é um docudrama estadunidense dirigido por Jeff Orlowski e escrito por Orlowski, Davis Coombe e Vickie Curtis. Foi lançado pela Netflix, em 9 de setembro de 2020. O filme analisa o papel das redes sociais e os danos que elas causam à sociedade.

Organizações citadas

Instituto Rodrigo Mendes: uma organização sem fins lucrativos com a missão de colaborar para que toda pessoa com deficiência tenha uma educação de qualidade na escola comum.

https://institutorodrigomendes.org.br/#nos

• Ashoka

Ashoka Empreendedores Sociais é uma organização internacional sem fins lucrativos, com foco em empreendedorismo social, fundada na Índia por Bill Drayton em 1980. 

https://www.ashoka.org/en

• Young Global Leaders do Fórum Econômico Mundial

Traduzido do inglês-O Young Global Leaders, ou Fórum de Jovens Líderes Globais, é uma organização independente sem fins lucrativos gerenciada a partir de Genebra, na Suíça, sob a supervisão do governo suíço.

https://www.oneyoungworld.com/?gclid=EAIaIQobChMI9–d5Z7-7gIVjYCRCh3rNQS3EAAYASAAEgJDGfD_BwE

• Unesco

A Representação da UNESCO no Brasil, localizada em Brasília, é um escritório nacional da região da América Latina, que, oficialmente, iniciou seu trabalho no país em 19 de junho de 1964. Seu principal objetivo é auxiliar a formulação e a operacionalização de políticas públicas que estejam em sintonia com as estratégias acordadas entre os Estados-membros da UNESCO.

https://pt.unesco.org/fieldoffice/brasilia

• Pacto Global

Lançado em 2000 pelo então secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan, o Pacto Global é uma chamada para as empresas alinharem suas estratégias e operações a 10 princípios universais nas áreas de Direitos Humanos, Trabalho, Meio Ambiente e Anticorrupção e desenvolverem ações que contribuam para o enfrentamento dos desafios da sociedade. É hoje a maior iniciativa de sustentabilidade corporativa do mundo, com mais de 16 mil membros, entre empresas e organizações, distribuídos em 69 redes locais, que abrangem 160 países.

https://www.pactoglobal.org.br/pg/esg?gclid=EAIaIQobChMI_cWVgJ_-7gIVlQqRCh3-8QYwEAAYASAAEgJK3_D_BwE

Dados 

• Hoje, da totalidade de crianças com deficiência, 90% estuda em escola comum (usando como base os dados das matrículas da educação básica). Há 30 anos, era o inverso. Hoje, temos 1 milhão de matrículas. Há 20 anos, eram 300 mil. 
• Há inúmeras pesquisas e relatos que comprovam a importância da educação inclusiva para todos. As crianças com deficiência que tiveram acesso a escola comum têm mais autonomia sobre suas próprias vidas na fase adulta.

Como podemos, enquanto pessoa e sociedade, ajudar na sua causa? 

“Há um histórico muito negativo em relação a essa parte da população [pessoas com deficiências]. A gente herda uma visão e uma concepção muito perversa. Chega a considerar pessoas deficientes como pessoas inúteis. O primeiro passo é de se dispor a estar atento a quais são as nossas crenças em relação a essas pessoas e quais são as atitudes decorrentes dessas crenças. Na sala de aula, por exemplo, é muito comum os professores subestimarem até onde o aluno vai chegar ou até inclusive se o aluno vai aprender. Primeiro passo é observar e identificar o que herdou como visão e se dispor a mudar. Canalizar o olhar para aquilo que existe de potência e de talento nessas pessoas.”

*O Change for Good agradece Willy Verdaguer pela autorização para usarmos como abertura o delicioso arranjo que fez com o grupo Humahuaca para a consagrada Alegria Alegria de Caetano Veloso e aproveita para agradecer e se desculpar por ter tomado emprestado, sem sequer pedir licença, a música A paz, de Gilberto Gil e João Donato, para fechar este episódio. 

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