Não podemos resolver problemas com a mesma lógica que usamos para criá-los

“Não podemos resolver problemas com a mesma lógica que usamos para criá-los”

Albert Einstein 

Fim de ano é sempre uma loucura. O trânsito nas cidades  aumenta, todos vamos  às compras, as filas crescem e  no final ficamos todos cansados e estressados. Eu fico me questionando… por quê? Será que faz sentido ficarmos esgotados física, emocional e financeiramente para manifestarmos nosso amor pelas pessoas, comprando tantos presentes, com seus embrulhos, caixas, laços?  E enquanto isso, sobrando menos tempo para curtir e cuidar da  família e dos amigos; menos tempo para dar risada e passear; menos tempo para pensar.

Isso mesmo que você leu: menos tempo para pensar, para contemplar, silenciar e refletir sobre o ano que passou e sobre o ano que virá. E, principalmente, sobre nossos propósitos.

Podemos não nos dar conta – ou fingir que não percebemos – mas nossas ações e nossas escolhas diárias, por menor que sejam, deixam pegadas no planeta, que podem ser negativas ou positivas. E todas essas decisões que tomamos são definidas por uma lógica, um modelo mental.

Na minha opinião, essa lógica onde fomos estimulados a competir, promoveu grandes conquistas. Porém, ao mesmo tempo que trouxe desenvolvimento, causou muitos danos. Pois, no seu caminho, essa lógica atropela as pessoas e o meio ambiente. Eu costumo chamar esses “danos” de “efeitos colaterais” do desenvolvimento, que tanto precisávamos.

Porém, hoje, ao percebermos a proporção desses efeitos colaterais, precisamos urgentemente encontrar formas de amenizá-lo e até evitar que surjam novos. Minha pergunta é: conseguiremos resolver essas questões tão urgentes e importantes com essa forma de competir onde para que um ganhe o outro precisa, inevitavelmente, perder? Apoiada na frase de Einstein que diz que “Não podemos resolver problemas com a mesma lógica que usamos para criá-los”, me sinto muito segura em afirmar que não. Essa lógica já gerou muito desrespeito e destruição pelo mundo. E se queremos sanar esses danos, não será com “ela” que conseguiremos avançar. 

Precisamos ter coragem de fazer e de pensar diferente: de trocar o “ganha/perde” por “ganha/ganha”, o “competitivo” por “colaborativo”, a “economia linear” (extrair–produzir-descartar) pela “economia circular” (produzir-usar-retornar-produzir). 

Acredito que nós, enquanto consumidores, podemos ajudar muito, escolhendo apoiar as redes de empresas, instituições e pessoas que promovem a sustentabilidade. Como? Podemos consumir em menor quantidade e de forma mais consciente, trocando a quantidade pela qualidade “sustentável” dos produtos e serviços que consumimos, mesmo que ele seja mais caro. 

A curadoria do Change for Good traz sempre dicas de produtos e serviços de empresas que arriscam sua própria existência ao tentar construir um modelo de negócio que vibra em uma outra lógica – numa lógica onde há respeito por todo o processo de produção, distribuição, venda e descarte do produto.  E se conseguirmos dar tração a esse ciclo virtuoso, os preços desses produtos serão ajustados em algum momento, gerando benefícios para todos.

Para resumir, e entendendo que não podemos resolver os problemas com a mesma lógica que usamos para criá-los, precisamos encontrar respostas e soluções que trabalhem num outro sentido. É isso que essas empresas estão tentando fazer, com muito empenho, comprometimento social e ambiental e respeito por todos os envolvidos. Cabe a nós ajudá-las nessa jornada.

Hoje, já existem caminhos institucionais e movimentos como o capitalismo consciente, certificações ESG e tantos outros que promovem essas mudanças. O selo B Corp, que no Brasil é fomentado pelo Sistema B, é um ótimo caminho. Afirmo isso pois desde 2018 o Change for Good é certificado Empresa B e por ser um processo dinâmico, vamos constantemente recebendo deles recomendações de como podemos avançar nessa agenda.   Essa iniciativa foi criada em 2006 nos Estados Unidos pela B Lab, com o objetivo de redefinir o conceito de sucesso nos negócios e identificar empresas que utilizem seu poder de mercado para solucionar algum tema social e ambiental.  Desde então, o Movimento B não para de crescer e hoje é uma comunidade global que une líderes e negócios (de pequeno porte até multinacionais) em um objetivo comum: o de construir um sistema econômico equitativo, inclusivo e regenerativo.  O Relatório de Desempenho de 2021 do Sistema B mostra que cerca de 4,5 mil organizações já fazem parte da rede, em 77 países. No Brasil, a iniciativa comemora oito anos.

Para aqueles que não abrem mão de um ceticismo acomodado, acreditem, nenhuma dessas iniciativas se pretendem infalíveis ou perfeitas, mas são sim genuinamente comprometidas a aprender a fazer com um olhar diferente. E a melhor forma é aprender fazendo…

Proponho refletirmos: Como podemos fazer diferente? Como podemos construir um mundo que respeite as pessoas, os animais e a natureza? Como podemos fortalecer as redes de pessoas, marcas, produtos e instituições ligadas à sustentabilidade? 

Fica aqui a minha provocação.

Renata Brunetti

Doutora em Psicologia Social pela PUC-SP tendo atuado desde 1996 como consultora em captação de recursos em diversas organizações sociais. Faz parte da rede associados do ICE, que tem como missão articular líderes transformadores no desenvolvimento de iniciativas que potencializam impacto social positivo na população de baixa renda. Fundadora e idealizadora do Change for Good e autora do livro “Repense suas escolhas: seus hábitos de vida, consumo e trabalho moldam o mundo”.

Apoio aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU

Essa iniciativa contribui para o alcance de:

  • ODS 8 - Trabalho decente e crescimento econômico: que visa Promover o crescimento econômico inclusivo e sustentável, emprego pleno e produtivo e trabalho decente para todos.
  • ODS 9 - Indústria, inovação e infraestrutura: que visa Construir infra estruturas resilientes, promover a industrialização inclusiva e sustentável e fomentar a inovação
  • ODS 11 - Cidades e comunidades e sustentáveis: que visa Tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis