O caminho para a construção de uma identidade sustentável

Vivemos em um mundo interconectado, onde nossas ações vão além de nossa própria esfera de influência. Nesse contexto, a busca por um mundo mais equilibrado socialmente e sustentável requer não apenas mudanças em políticas e tecnologias, mas também uma profunda reflexão sobre nossa própria identidade, nosso papel na sociedade e nossa responsabilidade na construção desse novo paradigma. 

A modernidade, centrada na busca pela razão e certeza e apoiada na compreensão tradicional de uma identidade fixa, coerente e permanente proposta por Kant e Descartes, representada principalmente pela expressão “penso, logo existo”, viu a identidade como uma entidade estável, alheia às influências externas. Contudo, a complexidade crescente das interações sociais e as revoluções tecnológicas vem redefinindo a nossa relação com a identidade dando lugar a uma abordagem mais dinâmica e sofisticada, que reconhece a profunda interconexão entre quem somos e o ambiente que nos rodeia. 

E nesse contexto, de uma multiplicidade de identidades subjetivas – móveis, díspares e errantes, emerge a “identidade pós-convencional”, um conceito defendido por Habermas 1 essencial para entender como nossas identidades individuais e coletivas 1 estão em constante diálogo com o mundo à nossa volta. Ela reconhece que nossas crenças, valores e escolhas não são apenas reflexos de influências externas, mas também contribuem ativamente para a construção do nosso ambiente social uma vez que estamos moldando as normas, valores e estruturas da sociedade em que vivemos. 

Na busca pela sustentabilidade, a busca pela emancipação é um componente fundamental. A capacidade de tomar decisões autônomas e desafiar as normas convencionais, é um dos principais componentes dessa jornada de autodescoberta e influência mútua. A emancipação envolve a busca pela autonomia, pelo poder de tomar decisões autênticas e pela capacidade de desafiar as normas convencionais. 

E nesse cenário de identidades fluidas e diversas, o papel do Direito se torna crucial. O sistema jurídico precisa se adaptar para refletir essa complexidade, estabelecendo limites e diretrizes que promovam a expressão autêntica das identidades individuais e coletivas, sem levar ao caos. 

1 Jürgen Habermas 1990 – “O pensamento pós- metafísico: estudos filosóficos”

A relação entre a identidade em transformação e a busca pela emancipação cria um ciclo virtuoso. À medida que nos libertamos das restrições das identidades convencionais, contribuímos para a formação de uma sociedade mais adaptável e inclusiva. 

A perspectiva de “identidade-metamorfose-emancipação”, de Antonio da Costa Ciampa , meu orientador de mestrado e doutorado, ressalta que nossa identidade 2 é um processo contínuo de mudança. A busca pela emancipação desempenha um papel fundamental na construção dessa identidade em constante evolução. 

É nessa perspectiva de construção de uma identidade emancipatória que apoio o meu pensamento de que podemos mudar o mundo para melhor com nossas escolhas diárias. Essa busca por uma identidade em constante transformação ecoa de maneira surpreendentemente harmoniosa com a busca pela sustentabilidade. Da mesma forma que nossa identidade se adapta às mudanças sociais e ambientais, precisamos adotar abordagens mais sustentáveis em nossas vidas, considerando o impacto de nossas escolhas no mundo ao nosso redor. 

Ao explorar a construção da identidade em um mundo em constante evolução, estamos, ao mesmo tempo, explorando como viver de maneira sustentável. Reconhecemos a interconexão entre nossas identidades individuais e o mundo compartilhado em que vivemos. Ao abraçar essa jornada de autodescoberta e evolução, estamos dando passos importantes em direção a um futuro consciente, inclusivo e harmonioso, onde a construção da identidade e a busca pela sustentabilidade coexistem de forma harmoniosa e enriquecedora. 

2 Antonio da Costa Ciampa – 1986 – “A estória do Severino e a história da Severina”

Renata Brunetti

Doutora em Psicologia Social pela PUC-SP tendo atuado desde 1996 como consultora em captação de recursos em diversas organizações sociais. Faz parte da rede associados do ICE, que tem como missão articular líderes transformadores no desenvolvimento de iniciativas que potencializam impacto social positivo na população de baixa renda. Fundadora e idealizadora do Change for Good e autora do livro “Repense suas escolhas: seus hábitos de vida, consumo e trabalho moldam o mundo”.

Apoio aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU

Essa iniciativa contribui para o alcance de:

  • ODS 3 - Saúde e Bem Estar: que visa Assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todos, em todas as idades
  • ODS 8 - Trabalho decente e crescimento econômico: que visa Promover o crescimento econômico inclusivo e sustentável, emprego pleno e produtivo e trabalho decente para todos.